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quarta-feira, 27 de abril de 2011

Não importa!

"- Eu quero, certo?  Não sei se devo, também não sei se posso, se é permitido. Sei lá, acho que também não sei o que é dever ou poder, mas agora estou sabendo de um jeito muito claro o que é precisar, certo?
E quando a gente precisa, não importa que seja proibido."

(Caio Fernando Abreu)

Amando todas, menos à mim...

- Você é anormal menina... Eita, o que ele fazia de tão especial? Tipo... Sei que não é fácil esquecer, mas gostar às vezes é estranho...

- Não fazia nada... Eu só... só gostava, entende??

- Mas porque gosta "às vezes'' dele ainda?

- Por gostar. Me apeguei à ele como nunca me apeguei a ninguém... Prendi e não quis mais soltar...

- Entendo. E ele, por onde anda ?

- Pelas ruas de um Porto [...] Amando mulheres, garotas, meninas... Amando todas, menos à mim...
 
(Caio Fernando Abreu)

domingo, 24 de abril de 2011

Fonte inesgotável

"Tudo que sabemos a respeito do amor é inacabado. A cada pretensa linha de chegada, o nosso entendimento se depara com uma nova linha de partida. A cada porta atravessada, encontramos mais à frente uma outra para ser aberta. Fonte inesgotável de vida, o amor é um caminho que clareia, progressivamente, à medida em que o percorremos. É como se cada passo nosso descortinasse um pouco mais da sua luz. A jornada é feita de dádivas e alegrias, mas também de imprevistos, embaraços, inabilidades, lições de toda espécie. De vez em quando tropeçamos nos trechos mais acidentados. Depois levantamos e prosseguimos: o chamado do amor é irrecusável para a alma. Desistir dele para ela, é como desistir de respirar."
(Ana Jácomo)

sábado, 23 de abril de 2011

Se você tivesse vindo hoje

"Se você tivesse vindo hoje, talvez eu disesse dos sentimentos que tenho - que ainda tenho - talvez eu disesse de todos os nossos encontros e desencontros até hoje - pura e simplesmente por culpa sua - e talvez eu tentasse encontrar um jeito de expressar, provar o quanto sou apaixonada por você - e que não vai passar e eu não vou esquecer e não é uma simples vontade que dá e passa. Se você tivesse indo hoje talvez eu conseguisse explicar como me sinto quando te vejo se aproximar - o coração acelerado - das frases que eu organizo as pressas na ânsia de que você fique um pouco mais e eu não tenha que te ver dar as costas tão sem demora, porque todas as vezes é exatamente isso que acontece, sempre fico aqui parada como uma idiota te vendo ir. Se você estivesse aqui hoje talvez eu elogiasse o seu perfume, seus olhos ou seu sorriso - esse mesmo que ilumina todos os cantos dentro de mim - todos os cantos dessa cidade, maldita cidade, que de repente me peguei gostando pelo simples fato de viver nela."
(Caio Fernando Abreu) 

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.

"Mas aconteceu que o principezinho, tendo andado muito tempo pelas areias, pelas rochas e pela neve, descobriu, enfim, uma estrada. E as estradas vão todas na direção dos homens.
- Bom dia, disse ele.
Era um jardim cheio de rosas.
- Bom dia, disseram as rosas.
O principezinho contemplou-as. Eram todas iguais à sua flor.
- Quem sois? perguntou ele estupefato.
- Somos rosas, disseram as rosas.
- Ah! exclamou o principezinho...
E ele sentiu-se extremamente infeliz. Sua flor lhe havia contado que ela era a única de sua espécie em todo o universo. E eis que havia cinco mil, iguaizinhas, num só jardim!
"Ela haveria de ficar bem vermelha, pensou ele, se visse isto... Começaria a tossir, fingiria morrer, para escapar do ridículo. E eu então teria que fingir que cuidava dela; porque senão, só para me humilhar, ela era bem capaz de morrer de verdade..."
Depois, refletiu ainda: "Eu me julgava rico de uma flor sem igual, e é apenas uma rosa comum que eu possuo. Uma rosa e três vulcões que me dão pelo joelho, um dos quais extinto para sempre. Isso não faz de mim um príncipe muito grande..." E, deitado na relva, ele chorou.
E foi então que apareceu a raposa:
- Boa dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. não me cativaram ainda.
- Ah! desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer "cativar"?
- Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que fazem. Tu procuras galinhas?
- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...
- É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra...
- Oh! não foi na Terra, disse o principezinho.
A raposa pareceu intrigada:
- Num outro planeta?
- Sim.
- Há caçadores nesse planeta?
- Não.
- Que bom! E galinhas?
- Também não.
- Nada é perfeito, suspirou a raposa.
Mas a raposa voltou à sua idéia.
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.
O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.
- Que é um rito? perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!
Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.
- Vou, disse a raposa.
- Então, não sais lucrando nada!
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.
Foi o principezinho rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela á agora única no mundo.
E as rosas estavam desapontadas.
- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele...
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar."

(Le Pettit Prince - Antoine de Saint-Exupéry)

Será assim

Ei, só vim avisar que estou desistindo, ok? Acho que assim será melhor, com ou sem você, já não importa mais. Venho vivendo em um permanente e inútil sacrifício, apenas mudarei o foco. Prometo esquecer-te. Aprendi a lembrar de ti a todo momento, agora bastará lembrar de te esquecer. Não vai ser difícil, vou tentar lembrar do muito que te dei e do pouco que recebi, vou lembrar dos sorrisos que desejei enquanto as lágrimas tomavam conta de mim, vou lembrar do quanto te amei e o que isso significou pra você. Bom, será assim. Vou sofrer como antes, mas dessa vez terei amor próprio, cuidarei mais do meu “eu”. Posso ter sido mais uma pra você, mas sou única pra mim.

(Caio Fernando Abreu)

domingo, 17 de abril de 2011


Charlie Brown: Eu achei que estar apaixonado deveria te fazer feliz. 
Linus: De onde você tirou essa ideia?


Charlie Brown
: Eu achei que estar apaixonado deveria te fazer feliz.
Linus: De onde você tirou essa ideia?

"Remar. Re-amar. Amar."

'Sinceramente eu acho que isso tudo já poderia ter sido resolvido. mas acontece que as nossas não-palavras e não-ações impedem muito a sucessão de vários acontecimentos bons. Todas as nossas tentativas foram - praticamente - em vão - se é que insistimos tanto, tanto alguma vez. Seria ótimo para mim ouvir de você, tudo o que eu mereço escutar, e seria ótimo também para você, ouvir de mim coisas que I never told you. Volto a repetir que o que nos impede é a ausência das nossas ações e palavras. Um palavra, uma ação, sua ou minha, seria suficiente para modificar nossos roteiros. Entristeço vezenquando, quando percebo que você cansa de remar e solta o remo e pula para fora do barco. Pode ser que tudo seja somente uma impressão minha, - de que as vezes você me esquece - mas é só o que eu percebo. Parafraseando Caio: já pensou se por nós vale a pena? Amar. Re-amar. Remar?'

(Maria Valentina)

sexta-feira, 15 de abril de 2011

E tem sido assim

"Me desculpe, mas eu não acredito no amor. Eu até queria acreditar, mas a vida vem me obrigando a fazer o contrário. Quando eu acreditei que seria sincero, acabei me deparando com o que costumo chamar de “decepção” ou “tapa na cara”. Sabe aquela escorregada que você precisa dar pra aprender a levantar? Então, é disso que estou falando. E tem sido assim. Não acredito no amor, não acredito nas pessoas, não acredito em mim. As pessoas não gostam de você pelo o que você é, elas gostam pelo o que você pode oferecer a elas. Costumam chamar de “desilusão” quando descobrem que o que queriam, você não pode dar e te descartam como objetos. Então, pergunto a mim mesma : o que move o mundo, o desejo de parecer ou o desejo de ter? Indago-me algumas vezes, percebo que sou incapaz de compreender. Ao menos sei que o que move o meu mundo é o desejo de ser, ser alguém que ama e acredita, confiante, que é amado. Mas, por enquanto, continua sendo apenas um desejo..."
 
(Caio Fernando Abreu)

Sorri

"Sorri quando a dor te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos vazios

Sorri quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador

Sorri quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos

Sorri vai mentindo a sua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz."
(Charles Chaplin)

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Day kiss ;*



*Flores do meu jardim, gostaram do dia de ontem?! Eu sei que todo dia é dia do beijo, é dia do carinho, é dia do amor, e em dias assim, - que se comemora o dia do beijo, ou do amor - nós só intensificamos o nosso amor e o nosso carinho uns para com os outros. Então, meus amorecos, aproveitem os dias, tanto do beijo, quanto do amor, para dizer aos quatro cantos do mundo que amam, que sentem, que se importam com as pessoas, mas só cuidem para que esse amor não se torne tão banal e clichê como têm se tornado ultimamente - triste realidade. Estamos combinados?! (Espero que gostem da música!) Fiquem com Deus, beijos de luz ;*

Karla Vivianne

domingo, 10 de abril de 2011

Quem sabe um castelo

"Preciso muito que alguma coisa muito muito boa aconteça na minha vida... Alguma coisa, alguma pessoa. Acho que tenho medo de não conseguir deixar que o passado seja passado, de aceitar verdades pela metade, de viver de ilusão! Eu preciso muito muito deixar acontecer o momento da renovação, trocar de pele, mudar de cor. Tenho sentido necessidades do novo, não importa o quê, mais que seja novo, nem que sejam os problemas. Preciso deixar a casa vazia para receber a nova mobília! Fazer a faxina da mente, da alma, do corpo e do coração! Demolir as ruínas e construir qualquer coisa nova, quem sabe um castelo."
 
(Caio Fernando Abreu)

sábado, 9 de abril de 2011

Realidade simples

Remédios, a bela, foi a única a permanecer imune à epidemia das bananeiras. Deteve-se numa adolescência magnífica, cada vez mais impermeável aos formalismos, mais indiferente à malícia e à desconfiança, feliz num mundo próprio de realidades simples. Não percebia por que razão as mulheres complicavam a vida com corpetes e saiotes, de modo que coseu um balandrau de canhamaço que enfiava simplesmente pela cabeça e resolvia sem mais delongas o problema de se vestir, sem lhe tirar a impressão de estar nua, que era na sua maneira de ver as coisas, a única forma decente de estar em casa.
Aborreceram-na tanto para que cortasse o cabelo e para que fizesse carrapitos com travessas e tranças com laços coloridos, que muito simplesmente rapou a cabeça e fez perucas para santos. O que era espantoso no seu instinto simplificador era que quanto mais se desembaraçava da moda em busca da comodidade, quanto mais passava por cima dos convencionalismos obedecendo à espontaneidade, mais perturbadora se tornava a sua beleza incrível e mais provocador o seu comportamento com os homens.

(Gabriel García Márquez)

Poeminha Amoroso

"Este é um poema de amor
tão meigo, tão terno, tão teu...
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu...
E eu,
quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.
Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
o tão famoso e inesperado verso que
te deixará pasmo, surpreso, perplexo...
eu te amo, perdoa-me, eu te amo...
"Poeminha Amoroso"

(Cora Coralina)

Maria vai acabar como eu

"Maria anda como eu. Impossibilitada de fazer tudo o que quer. Tem mãos amarradas, ar de doente, olhar de demente, cansada. Maria vai acabar como eu:covarde nas decisões, amante das cousas indefinidas e querendo compreender suicidas. Maria vai acabar assim sem rumo, andando por aí, fazendo versos e tendo acessos nostálgicos. Maria vai acabar bem tristemente. De qualquer jeito, lendo jornais, tendo marido indefinido. (Não sei porque Maria quer compreender muito, demais a vida do suicida e Maria vai acabar se fartando da vida.) A vida, coitada, é camarada, gosta de Maria, quer fazer Maria viver mais, porque Maria é desgraçada, quer deixá-la para o fim, assim a mostra, e eu francamente não entendo porque Maria não gosta da vida."

(Hilda Hilst)

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Sua cor não se percebe

(...) Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia, mas é realmente uma flor.
Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

(Carlos Drummond de Andrade)

Mas volto e volto sempre

Prometo a mim mesmo nunca mais ouvir, nunca mais ter a ti tão mentirosamente próximo. E escapo brusco para que percebas que mal suporto a tua presença, veneno, veneno! Às vezes digo coisas ácidas e de alguma forma quero te fazer compreender que não é assim, que tenho um medo cada vez maior do que vou sentindo em todos esses meses, e não se soluciona. Mas volto e volto sempre, então me invades outra vez com o mesmo jogo e embora supondo conhecer as regras, me deixo tomar por inteiro por tuas estranhas liturgias, a compactuar com teus medos que não decifro, a aceitá-los como um cão faminto aceita um osso descarnado. Essas migalhas que me vais jogando entre as palavras e os pratos vazios, torno sempre a voltar, talvez penalizado do teu olho que não se debruça sobre nenhum outro assim como sobre o meu.
 
(Caio Fernando Abreu)

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Procura-se um traficante (O mais rápido possível!)

A: O que tu quer?
B: Tudo.
A: Tu não pode ter tudo. Na verdade, tu não quer nada.
B: Ok, eu não quero nada. Eu tenho tudo.
A: Não tem amor.
B: Amor é químico; Aspirina, também.
A: Se fosse químico, tu não tava nessa merda.
B: Se amor não fosse uma merda, eu não precisaria de tanta química.
A: Tu não precisa de química.
B: Preciso do que, então?
A: Precisa amar.
B: Não amo ninguém.
A: Mentira. Só fala de amor.
B: Da falta de amor.
A: Viu? Não é química! Tu precisa.
B: É química. E eu preciso dessa quimíca, então.
A: E porque tu não procura?
B: Porque esse traficante não existe.

(Rodrigo Esteban Tavares)
-
*Reblogando do blog da Lilian: http://bebidaeamorsemgeloporfavor.blogspot.com/ - Parabéns querida!*

terça-feira, 5 de abril de 2011

Confesso

Confesso que ando muito cansado, sabe? Mas um cansaço diferente… um cansaço de não querer mais reclamar, de não querer pedir, de não fazer nada, de deixar as coisas acontecerem. Confesso que às vezes me dão umas crises de choro que parecem não parar, um medo e ao mesmo tempo uma certeza de tudo que quero ser, que quero fazer. Confesso que você estava em todos esses meus planos, mas eu sinto que as coisas vão escorrendo entre meus dedos, se derramando, não me pertecendo. Estou realmente cansado. Cansado e cansado de ser mar agitado, de ser tempestade… Quero ser mar calmo. Preciso de segurança, de amor, de compreensão, de atenção, de alguém que sente comigo e fale: “calma, eu estou com você e vou te proteger! Nós vamos ser fortes juntos, juntos, juntos.” Confesso que preciso de sorrisos, abraços, chocolates, bons filmes, paciência e coisas desse tipo. Confesso, confesso, confesso. Confesso que agora só espero você. Suas confissões.
 
(Caio Fernando Abreu)

domingo, 3 de abril de 2011

Você já desejou não ser você?

Você já desejou não ser você? Você já desejou dormir e acordar em outro lugar? Você já desejou fechar os olhos e desaparecer? Apenas me responda essas perguntas, porque isso tem acontecido em tal frequência comigo que chega a me abalar. Será que esse desejo de me sentir menos viva, menos “eu” é comum? Eu não quero me achar tão desprezível a ponto de me “auto abandonar”. Se eu não for importante pra mim mesma, quem vai algum dia me olhar e dizer que tenho algum valor? Mas repito, que por diversas vezes eu tenho desejado não existir ou então, existir em um outro lugar, bem distante, bem diferente... Amar outras pessoas, gostar de outras coisas, ter outros pensamentos, ter outro coração ou até ter uma outra alma. Voce já desejou não ser você ?
 
(Caio Fernando Abreu)

sábado, 2 de abril de 2011

A pessoa errada

Pensando bem em tudo o que a gente vê e vivencia, ouve e pensa, não existe uma pessoa certa pra gente. Existe uma pessoa que, se você for parar pra pensar é, na verdade, a pessoa errada. Porque a pessoa certa faz tudo certinho. Chega na hora certa, fala as coisas certas, faz as coisas certas, mas nem sempre a gente tá precisando das coisas certas. Aí é a hora de procurar a pessoa errada. A pessoa errada te faz perder a cabeça, perder a hora, morrer de amor… A pessoa errada vai ficar um dia sem te procurar, que é pra na hora que vocês se encontrarem a entrega ser muito mais verdadeira. A pessoa errada, é na verdade, aquilo que a gente chama de pessoa certa. Essa pessoa vai te fazer chorar, mas uma hora depois vai estar enxugando suas lágrimas. Essa pessoa vai tirar seu sono. Essa pessoa talvez te magoe e depois te enche de mimos pedindo seu perdão. Essa pessoa pode não estar 100% do tempo ao seu lado, mas vai estar 100% da vida dela esperando você. Vai estar o tempo todo pensando em você. A pessoa errada tem que aparecer pra todo mundo, porque a vida não é certa. Nada aqui é certo! O que é certo mesmo, é que temos que viver cada momento, cada segundo, amando, sorrindo, chorando, emocionando, pensando, agindo, querendo, conseguindo… E só assim, é possível chegar àquele momento do dia em que a gente diz: “Graças à Deus deu tudo certo” Quando na verdade, tudo o que Ele quer é que a gente encontre a pessoa errada pra que as coisas comecem a realmente funcionar direito pra gente.

(Luís Fernando Veríssimo)

A moça

"Acredito que essa moça, no fundo gosta dessas coisas. De se apaixonar, de se jogar num rio onde ela não sabe se consegue nadar. Ela não desiste e leva bóias. E se ela se afogar, se recupera. Estranho e que ela já apanhou demais da vida. Essa moça tem relacionamentos estranhos, acho que ela está condicionada a ser uma pessoa substituta. E quem não é? A gente sempre acha que é especial na vida de alguém, mas o que te garante que você não está somente servindo pra tapar buracos, servindo de curativo pras feridas antigas? A moça, ela muito amou, ama, amará, e muito se machuca também. Porque amar também é isso, não? Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes, até que ela fique bem e te deixe pra trás, fraco e sangrando. Daí você espera por alguém que venha te curar. As vezes esse alguém aparece, outras vezes, não. E pra ela? Por quem ela espera? E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará. A moça - que não era Capitu, mas também tem olhos de ressaca - levanta e segue em frente. Não por ser forte, e sim pelo contrário, por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo."

(Tati Bernardi)

E só!

''Vai menina, fecha os olhos. Solta os cabelos. Joga a vida. Como quem não tem o que perder. Como quem não aposta. Como quem brinca somente. Vai, esquece do mundo. Molha os pés na poça. Mergulha no que te dá vontade. Que a vida não espera por você. Abraça o que te faz sorrir. Sonha que é de graça. Não espere. Promessas, vão e vem. Planos, se desfazem. Regras, você as dita. Palavras, o vento leva. Distância, só existe pra quem quer. Sonhos, se realizam, ou não. Os olhos se fecham um dia, pra sempre. E o que importa você sabe, menina. É o quão isso te faz sorrir. E só.''
[Caio Fernando Abreu]
-
"Se a distância só existe para quem quer, te peço desculpas. A nossa distância serviu para nos mostrar que um sem o outro só sobrevive. E hoje, meu amor, o que sobrou dos nossos restos foram as lembranças de um passado mais do que doce. Hoje, eu te procuro em cada olhar e em cada gesto meu, para dizer o que ficou perdido no nosso doce-passado. Só te peço: nunca se perca de mim. Agora e mais do que nunca, eu não gostaria de ter que relutar contra a minha solidão e a tua ausência dentro do meu ser. Fecharei os meus olhos, soltarei meus cabelos, jogarei a vida sem apostar em nada, esquecerei do mundo, molharei os pés na poça, mergulharei no que me der vontade, abraçarei o que me faz feliz, sonharei, e lutarei até o fim. Mas isso se você entrar no mesmo barco e junto comigo remar até que o último dia de amanhecer se cumpra."
[Karla Vivianne]