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sexta-feira, 8 de abril de 2011

Mas volto e volto sempre

Prometo a mim mesmo nunca mais ouvir, nunca mais ter a ti tão mentirosamente próximo. E escapo brusco para que percebas que mal suporto a tua presença, veneno, veneno! Às vezes digo coisas ácidas e de alguma forma quero te fazer compreender que não é assim, que tenho um medo cada vez maior do que vou sentindo em todos esses meses, e não se soluciona. Mas volto e volto sempre, então me invades outra vez com o mesmo jogo e embora supondo conhecer as regras, me deixo tomar por inteiro por tuas estranhas liturgias, a compactuar com teus medos que não decifro, a aceitá-los como um cão faminto aceita um osso descarnado. Essas migalhas que me vais jogando entre as palavras e os pratos vazios, torno sempre a voltar, talvez penalizado do teu olho que não se debruça sobre nenhum outro assim como sobre o meu.
 
(Caio Fernando Abreu)

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