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sexta-feira, 18 de março de 2011

Descompassadamente

Sim, eu conheço uma estorinha de dois raios caídos no mesmo lugar, acredite! Aliás, posso dar nome à esse advérbio de lugar: chama-se coração. Um órgão humano considerado o essencial para a vida, capaz de comportar os melhores e até os piores sentimentos já descobertos. O coração em questão, digo, a dona do coração, era uma menininha tão doce, mas tão doce, que a sua doçura envolvente poderia até modificar vidas e vidas por onde passasse, sem levar qualquer sentimento ou estado de espírito que se comparasse à algo daninho. E por onde passava, era reconhecida por sua beleza, seu sorriso, que possuía um brilho inexoravelmente encantador; seus trejeitos complexos, suas manias mínimas que lhe caracterizavam, seu perfume, que era uma espécie de conjunto dos outros perfumes das pessoas que conhecia; suas inúmeras formas de ver o mundo, e uma infinidade de adjetivos que qualificavam-na como um anjo. Mas é claro, até os anjos têm defeitos, e o seu maior (e pior) era dar valor à tudo o que lhe diziam. Acreditava, pois, que todos eram sinceros e francos com ela, que as palavras que escutava eram todas veritas*. Nunca lhe passou pela cabeça que pudessem ser ilusórias e utópicas. Bastou um ser daninho entrar em sua vida para que essa sua concepção mudasse. Ele a iludiu com palavras e, o modo como se portava diante dela, era logicamente perceptível de que as suas intenções eram outras. Ela, por mais doce que fosse, a sua ingenuidade assombrava. Durante o período de um ano, se conheceram e se apaixonaram, mas por ironia do destino ou talvez até por mais uma das artimanhas da própria vida, foram pegos de surpresa por um descompasso enorme, e por uma impaciência, juntamente com um conjunto de ópera lírica que era de partir o coração. Não podiam ficar juntos por mais que essa fosse a vontade de ambos. A opinião alheia era muito contrária aos sentimentos da menina-anjo, e o seu amor por aquele garoto-daninho era cada vez mais forte. Enfim descompassados, esse foi o primeiro raio. O segundo, veio um tempo depois... Cerca de uns 3 anos após o afastamento do anjo e do ser daninho. Não mudou em muito: a estória se repetia e, mais uma vez, aquele doce de menina também foi utopicamente vencida. Não pensem que esse ser dos céus perdeu o seu brilho. Não! Do contrário: continuou altiva, nunca abaixou a cabeça para nada e, sempre soube tocar o barco adiante por mais que fosse doloroso remar sozinha. Há uns dias atrás, eu revi a garotinha angelical que conheci no período do seu primeiro raio. Perguntei-lhe o qual tinha sido o fim dessa obra romancista, e obtive a seguinte resposta: "Pude perceber que as palavras foram as que mais me prejudicaram e o nosso descompasso foi a pior consequência delas. Todos achavam que iríamos nos afastar porque as suas palavras nos diziam que era impossível cultivar algo que não teria sucesso algum. Há 3 dias eu revi o meu primeiro raio e conversamos por horas até que decidimos que tocaríamos o nosso barco sem muitas cobranças e muito menos sem dar atenção ao que concerteza iria nos ferir. Planejamos que daqui a 3 anos tudo se fará como quisermos, e todas as palavras utópicas que foram escritas, apagaremo-nas e daremos uma chance para o nosso destino. Ele se encarregará de dizer se elas continuam ou não sendo ilusórias." (...) Lhe desejei boa sorte e lhe disse que "dar chance para o futuro se valendo do presente é mais satisfatório do que se valer de passado para tal feito." E assim se seguiu a estória dos raios e da menina-anjo, que espera nunca mais ser descompassada pelas palavras fictícias.

(Karla Vivianne)

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