Pages

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Por inteiro


Por razões que desconheço, nossas aproximações foram sempre pela metade. Interrompidas. Um passo para a frente e cem para trás. Retrocessos. Descaminhos. E me pergunto se, quem sabe um dia, na hora certa, nosso encontro pode acontecer inteiro.

Caio F. Abreu

Corpo estranho


" Meu corpo está estranho... Pareço sentir paixão novamente. Acordo e vejo um pequeno filme em meus pensamentos. Lembro daquilo que me faz voltar a ser criança. Isso tudo me remeto ao amor! (...) O meu coração arde. As pernas tremem. Mas será isso que me aflora, o amor? Realidade: não sei. A única certeza propriamente dita é que necessito, não obstante, controlar-me. A verdade é que preciso sair dessa enfermidade."
Maria Valentina

domingo, 28 de novembro de 2010

Sede



Se a música é o alimento do amor, não parem de tocar!
Deêm-me música em excesso.
Tanta que, depois de saciar, mate-me de música o apetite!
Karla Vivianne

À mim


Desistir! Desistir! Desistir! Dizem que desistir é a única saída dos fracos. Pois bem, acá está a fraca mais forte desse mundo. Sim! Eu suportei de tudo amor. Até mesmo o silêncio mais ensurdecedor que se pode sentir. Sentia meu coração quebrar-se por dentro. E quando rompi este silêncio, alívio senti, menos que dor. E você: nada à mim. Agora me diz, porque eu?


Karla Vivianne

"Delicatécia"



"Delicada como a flor que teima em florir. Flor como a borboleta que o vento teima em tirar pra dançar. Jardim como o sol que teima em brilhar. Simples como os fios do cotidiano que teimam em ser lindos. Complexa como a lua que teima em reluzir. Invulnerável como a coragem que teima em avançar ainda que com medo. Intensa como luz que teima em fazer cóssegas. Amor como o amor que teima em ser amor. Vida que teima em viver. E teima. E consegue. E vive. (...) "
Karla Vivianne

sábado, 27 de novembro de 2010

Reciprocidade


Falar de amor cansa não é? Eu que o diga. Mas não é que eu tenha cansado, é que ficou clichê. Demais até, eu diria. Mas infelizmente, isso que digo não sai de mim. É bom. É ruim. É bom porque me deixa anestesiada, atônita, me sentindo mais viva que nunca, e convicta de certas coisas. É ruim porque me deixa muito aflita, e ao mesmo tempo me sinto como se um ataque cardíaco me aflorasse a aorta. Mas, eu não sei, eu deixo as coisas fluírem: posso decidir até onde vão, posso parar e continuar a hora que quiser, ou simplesmente posso querer que passe. Mas aí é que se encontra o problema: eu não quero que passe. Aliás, eu nunca quero que passe. Essas sensações me dão cada vez mais a certeza de que sem elas eu não viveria. Ou que sem elas eu não teria sentido. É como um remédio bem eficaz: se você toma, aos poucos vai se sentindo melhor, e com vontade de sorrir e brincar, como fazem as borboletas. Em contraponto, se você esquece de tomar, volta a ser a lagarta no casulo, e fica toda encolhidinha, tendo que desenhar sorrisos amarelos e colar no rosto pra disfarçar a seriedade (essa é a parte clichê). Concluo que, se esses fios soltos se juntam, findam-se e formam um lindo tecido, que bota pra dormir todos os sonhos, e os diz todas as noites que essa reciprocidade à qual o amor alimenta, é bela demais pra ser considerada complexa. Eu à prefiro clichê assim mesmo; mas recíproca.
Karla Vivianne

Sorriso (Com Maiúscula)


Sorriso, diz-me aqui o dicionário, é o ato de sorrir. E sorrir é rir sem fazer ruído e executando contracção muscular da boca e dos olhos.

O sorriso, meus amigos, é muito mais do que estas pobres definições, e eu pasmo ao imaginar o autor do dicionário no ato de escrever o seu verbete, assim a frio, como se nunca tivesse sorrido na vida. Por aqui se vê até que ponto o que as pessoas fazem pode diferir do que dizem. Caio em completo desvaneio e ponho-me a sonhar um dicionário que desse precisamente, exatamente, o sentido das palavras e transformasse em fio-de-prumo a rede em que, na prática de todos os dias, elas nos envolvem.

Não há dois sorrisos iguais. Temos o sorriso de troça, o sorriso superior e o seu contrário humilde, o de ternura, o de cepticismo, o amargo e o irônico, o sorriso de esperança, o de condescendência, o deslumbrado, o de embaraço, e (por que não?) o de quem morre. E há muitos mais. Mas nenhum deles é o Sorriso.

O Sorriso (este, com maiúsculas) vem sempre de longe. É a manifestação de uma sabedoria profunda, não tem nada que ver com as contracções musculares e não cabe numa definição de dicionário. Principia por um leve mover de rosto, às vezes hesitante, por um frémito interior que nasce nas mais secretas camadas do ser. Se move músculos é porque não tem outra maneira de exprimir-se. Mas não terá? Não conhecemos nós sorrisos que são rápidos clarões, como esse brilho súbito e inexplicável que soltam os peixes nas águas fundas? Quando a luz do sol passa sobre os campos ao sabor do vento e da nuvem, que foi que na terra se moveu? E contudo era um sorriso.


José Saramago.

Não tenho pressa


"O amor não tem pressa; Ele pode esperar em silêncio; Num fundo de armário; Na posta-restante; Milênios, milênios no ar."


Chico Buarque

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O amor é filme


O amor é filme
Eu sei pelo cheiro de menta e pipoca que dá quando a gente ama
Eu sei porque eu sei muito bem como a cor da manhã fica
Da felicidade, da dúvida, dor de barriga
É drama, aventura, mentira, comédia romântica [2x]

Um belo dia a a gente acorda e hum...
Um filme passou por a gente e parece que já se anunciou o episódio dois
É quando a gente sente o amor se abuletar na gente tudo acabou bem,
Agora o que vem depois

O amor é filme
Eu sei pelo cheiro de menta e pipoca que dá quando a gente ama
Eu sei porque eu sei muito bem como a cor da manhã fica
Da felicidade, da dúvida, dor de barriga
É drama, aventura, mentira, comédia romântica

É quando as emoções viram luz, e sombras e sons, movimentos
E o mundo todo vira nós dois,
Dois corações bandidos
Enquanto uma canção de amor persegue o sentimento
O Zoom in dá ré e sobem os créditos

O amor é filme e Deus espectador!


O Teatro Mágico

Sobrenome do amor


Ainda que em dias sem tempo quem sempre arranja tempo para aparecer é ela, a saudade. Em meio a corridas para cumprir horários, leituras dinâmicas para entregar tudo no prazo ela sempre chega trazendo a presença de dias que não voltam. A ciência avança e inventam solução para tudo ou quase tudo, mas ainda não tem um jeito de se voltar de fato ao passado e de se reviver nem que seja por um instante algum momento feliz. Eu trocaria qualquer dia do futuro por um minuto de novo ao lado de quem me rouba os pensamentos. Também não há nada que tenha sido inventado que nos faça viver no presente, estamos sempre presos em um tempo que não é o agora. Estamos no passado, na lembrança feliz, na tristeza ainda não superada ou esperançosos pelo futuro no qual tudo voltará a ser como no passado ou tudo será diferente do presente. Estamos até mesmo no futuro mais próximo aguardando o relógio marcar o fim do expediente para poder ser feliz na volta ao lar ou para aproveitar o fim de semana com os amigos. Nunca estamos no presente nem que seja desejando nunca esquecer o que se vive agora. Algumas vezes a gente queria mudar aquele momento em que tudo mudou, repetir aquele abraço, retribuir aquele beijo, dizer que amava e não sabia, dizer que sabia ou até dizer que amava e sabia, mas temia.(...)

O amor é como o sono em noite de insônia, se você não está atento e sonha junto no exato momento em que ele chega o tempo passa.


Greek.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Mil vezes


"Prefiro os desajustados noturnos.
Ao tédio daquelas pessoas que não sabem amanhecer"

Cazuza

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Fabiana Maria Sales Muniz

" - Danny? Ouça. vou falar-lhe isso pela primeira e pela última vez. Há coisas que não se deve dizer nem a uma menino de sessenta anos; mas como as coisas devem ser e como são na realidade, dificilmente isto coincide. O mundo é um lugar duro, Danny. Não se importa com a gente. Não odeia você nem a mim, mas também não morre de amor por nós. Coisas terríveis acontecem no mundo, e são coisas que ninguém pode explicar. Indivíduos bons morrem de forma ruim e dolorosa e deixam as pessoas que os amam sozinhas. As vezes, parece que só as pessoas ruins permanecem sadias e prósperas. O mundo não ama você, mas sua mãe o ama e eu também. Você é um bom menino. Angustia-se pela morte de seu pai e, quando sente que precisa chorar pelo que aconteceu com ele, esconde-se num armário ou debaixo das cobertas e chora até que saia tudo de dentro de você novamente. É isso que um bom filho deve fazer. Mas veja, você continua vivendo. É sua obrigação, neste mundo duro, manter viva a chama do amor e ver que continua vivendo, não importa como. Seja um bom artista e continue. "



Em memória.

Dreams


Aos que de alguma forma,
vendem sonhos,
por meio de sua inteligência,
crítica, sensibilidade,
generosidade, amabilidade.
Os vendedores de sonhos,
são frequentemente estranhos
no ninho social. São anormais.
Pois o normal é chafurdar na
lama do individualismo,
do egocentrismo,
do personalismo.
Aos que acreditam em sonhos,
o seu legado será
inesquecível.

(O Vendedor de Sonhos, Augusto Cury)

Essencial



"Fico às vezes reduzida ao essencial, quer dizer, só meu coração bate."

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Dizer o amor



Se você ama, diga que ama. Não tem essa de não precisar dizer porque o outro já sabe. Se sabe, maravilha, mas esse é um conhecimento que nunca está concluído. Pede inúmeras e ternas atualizações. Economizar amor é avareza. Coisa de quem funciona na frequência da escassez. De quem tem medo de gastar sentimento e lhe faltar depois. É terrível viver contando moedinhas de afeto. Há amor suficiente no universo. Pra todo mundo. Não perdemos quando damos: ganhamos junto. Quanto mais a gente faz o amor circular, mais amor a gente tem. Não é lorota. Basta sentir nas interações do dia-a-dia, esse nosso caderno de exercícios. (...)

Vocação


Perguntaram à flor de onde vinha.
"De uma semente de amor que não se acovardou."
Ana Jácomo

domingo, 21 de novembro de 2010

Com o coração


Hoje eu não quero conversas vestidas de uniforme. Diálogos impecavelmente arrumados que não deixam o coração à mostra. As palavras podem sair de casa sem maquiagem. Podem surgir com os cabelos desalinhados, livres de roupas que as apertem, como se tivessem acabado de acordar. Dispensa-se tons acadêmicos, defesas de tese, regras para impressionar o interlocutor. O único requinte deve ser o sentimento. É desnecessário tentar entender qualquer coisa. Tentar solucionar qualquer problema. Buscar salvamento para o quer que seja.

Hoje, se quiser, se puder, se souber, me fala de você. Da essência vestida com essa roupa de gente com a qual você se apresenta. Fala dos seus amores, tanto faz se estão perto do seu corpo ou somente do seu coração. Fala sobre as coisas que costumam fazer você sintonizar a frequência do seu riso mais gostoso. Fala sobre os sonhos que mantêm o frescor, por mais antigos que sejam. Fala a partir daquilo em você que não desaprendeu o caminho das delícias. Do pedaço de doçura que não foi maculado. Da porção amorosa que saiu ilesa à própria indelicadeza e à alheia. A partir daquilo em você que continuou a acreditar na ternura, a se encantar e a se desprevenir, apesar de tantos apesares. Conta sobre as receitas que lhe dão água na boca. Sobre o que gosta de fazer para se divertir. Conta se você reza antes de adormecer.

E se não quisermos, não pudermos, não soubermos, com palavras, nos dizer um pouco um para o outro, senta ao meu lado assim mesmo. Deixa os nossos olhos se encontrarem vez ou outra até nascer aquele sorriso bom que acontece quando a vida da gente se sente olhada com amor. Senta apenas ao meu lado e deixa o meu silêncio conversar com o seu. Às vezes, a gente nem precisa mesmo de palavras.
Ana Jácomo

sábado, 20 de novembro de 2010

Delicadeza




A gente, às vezes, se afoba e se abafa desnecessariamente.

Os mais lindos bordados da vida são feitos com os fios de delicadeza que respeitam a sabedoria amorosa do tempo do coração.
Ana Jácomo

Sereníssima


Consegui meu equilíbrio cortejando a insanidade. Tudo está perdido, mas existem possibilidades.


Legião Urbana

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Nós estamos condenados a amar para sempre


- Só sei que nós nos amamos muito...
- Porque você está usando o verbo no presente? Você ainda me ama?
- Não, eu falei no passado!
- Curioso né? É a mesma conjugação.
- Que língua doida! Quer dizer que NÓS estamos condenados a amar para sempre?
- E não é o que acontece? Digo, nosso amor nunca acaba, o que acaba são as relações...
- Pensar assim me assusta.
- Porque? Você acha isso ruim?
- É que nessas coisas de amor eu sempre dôo demais...
- Você usou o verbo 'doer' ou 'doar'?
- [Pausa] Pois é, também dá no mesmo..."

(Gian Fabra)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Viver é...


Manter meu buquê de sorrisos no rosto, sem perder a vontade de antes. Porque aprendi com a Dona Chica, que a vida, apesar de bruta, é meio mágica. Dá sempre pra tirar um coelho da cartola. E lá vou eu, nas minhas tentativas, às vezes meio cegas, às vezes meio burras, tentar acertar os passos. Sem me preocupar se a próxima etapa será o tombo ou o voo. Eu sei que vou. Insisto na caminhada. O que não dá é pra ficar parado. Se amanhã o que eu sonhei não for bem aquilo, eu tiro um arco-íris da cartola. E refaço. Colo. Pinto e bordo. Porque a força de dentro é maior. Maior que todo mal que existe no mundo. Maior que todos os ventos contrários. (...)

Caio Fernando Abreu

Segundos cinzas



É meu amor, hoje o dia está cinza. Olhei pro céu apenas algumas vezes, e vi que São Pedro estava se exibindo. E quanto mais assistia à isso, mais me recordava de você como sendo aquele que me arranca os melhores sorrisos e os melhores suspiros de todas as manhãs. Aquele gostinho de gota de orvalho. Aquela chuva gostosa que cai. Aquele meu coração que transborda emoção quando você aparece... É. É isso que você consegue fazer comigo. E apesar de ser muito doce, as vezes é um pouco salgado. Mas sabe que eu até gosto? Sim. Pelo menos desperta em mim algo que há tanto tempo eu já havia perdido. Mas veja: isso é um tanto quanto paranóico. Eu cá, imagino você. E você dái, nem me enxerga... Vai ver é por isso que dizem que o essencial é invisível aos olhos. E nesse aspecto eu me considero muito bem invisível.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O que vem depois?


- O que é que se consegue quando se fica feliz?, sua voz era uma seta clara e fina. A professora olhou para Joana.

- Repita a pergunta...?

Silêncio. A professora sorriu arrumando os livros.

- Pergunte de novo, Joana, eu é que não ouvi.

- Queria saber: depois que se é feliz o que acontece? O que vem depois? - repetiu a menina com obstinação.

A mulher encarava-a com surpresa.

- Que idéia! Acho que não sei o que você quer dizer, que idéia! Faça a mesma pergunta com outras palavras...

- Ser feliz é para se conseguir o quê?




Clarice Lispector

Então que seja doce!


segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Tô nem aí!


"Tô nem aí pro futuro, pra celulite, tô nem aí para queixas datadas, tô nem aí pro telefone mudo, pro preço do combustível, tô nem aí se vai chover amanhã, se o presidente vai viajar, se vai voltar, tô nem aí. Tô nem aí pros especuladores da vida alheia...

Pros sentimentos das pessoas, tô aí. Para seus desejos e dúvidas, para seus medos e ousadias, tô aí. Para tudo aquilo que tem consistência, para tudo aquilo que nos comove, para o leve e o denso, para a alegria genuína e para o luto, tô aí, sim.

Tô nem aí para quantas calorias tem um bife, tô nem aí pra corrida espacial, se há vida após a morte, tô nem aí pro carro do ano, pra musa do próximo verão, pro gol mais bonito do domingo, pra manchete da capa de amanhã.

Para a grosseria e a falta de delicadeza que corrói as relações, tô aí. Para a brutalidade das pessoas, pro egoísmo, pra falta de educação e civilidade, para todos que possuem uma nuvem preta acima da cabeça e a carregam pra onde quer que vão, tô aí e me dói profundamente.

Tô nem aí pro que foi decidido na reunião de condomínio, na reunião de cúpula, na reunião de mães, nas reuniões que duram mais de dez minutos, tô nem aí pro salário dos outros, pras novas tendências...

Tô aí pra alguns, pros meus. Tô aí e estou aqui. Estou atenta. Estou dentro. Estou me vendo. Estou tentando. Estou querendo. Estou a postos só para o mínimo, o máximo. Para o que importa mesmo. Para o mistério. A verdade. O caos. O céu. O inferno. Essas coisas.

No mais, tô nem aí. Refrão e desabafo."

(Martha Medeiros)

Doação ilimitada


Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Carlos Drummond de Andrade

sábado, 13 de novembro de 2010

She

Tem dentro dela as quatro estações, mas é apaixonada pelos dias ensolarados, e por noites enfeitadas de estrelas brilhantes.

Em uma de suas gavetas, guarda uma caixa de lápis para colorir sua história, escolhe as cores de acordo com o seu astral, as mais alegres são as suas preferidas. Mesmo se algo não vai bem, não há um dia que termine sem que ela não dê pelo menos um sorriso, ela sempre tem bons motivos para isso.

Com cores vibrantes, ela pinta e retoca o que está fosco. Se há coisas que a deixa triste, ela passa borracha, liquid paper ou até arranca a página só para poder desenhar de novo. Contorna com gliter as boas lembranças que é para o tempo não apagar. Cria novos tons para os momentos que virão, educa as ideias, e escolhe ir pelo caminho mais florido e reluzente.

Sua razão a mantém com os pés no chão, mas o seu coração guia os seus passos e por isso ela consegue voar. Ela é sempre uma largata virando borboleta. Tudo nela se transforma, não há nada imutável. Gosta do imperfeito, sobretudo porque admira a busca de ser alguém melhor.

Ela sabe que não está sozinha, tem uma família essencialmente linda, tem amigas para todas as horas e um amor para cultivar. Ela não é dona de ninguém, mas é do seu nariz, dos seus sentimentos e de suas razões.
Tem personalidade e um gênio do tipo bem forte. Por vezes isso bom, por outras, nem tanto.

Tem um olhar que sempre enxerga além das aparências, e os seus cinco sentidos são bem aguçados. É quente ou é fria, nunca é morna, ela odeia meio termos, não gosta do mais ou menos, ou é 8 ou é 80. É teimosa, é insistente, é insaciável, sempre deseja mais da vida. É maluca, inconstante e difícil. É Alegria, é diversão, é aventura.

É exagerada, desastrada e cheia de manias. É amável , é detestável, é doce, é amarga. Ela tem um coração do tamanho do mundo e ao mesmo tempo do tamanho de um grão, a entrada é para quem ousa se aproximar, mas a permanência é para raros.

Gosta de tudo que é simples, é adepta aos detalhes e sente ciúmes de tudo que ela não quer perder. Vive cada instante intensamente, se apega as emoções. Todo dia, ela descobre novos motivos para acreditar, vive dando reviravoltas. Nela, há uma paz que eu chamo de felicidade, nela há sonhos... Muitos!
K.

Um pouco de Caio


“Porque aprendi, que a vida, apesar de bruta, é meio mágica. Dá sempre pra tirar um coelho da cartola. E lá vou eu, nas minhas tentativas, às vezes meio cegas, às vezes meio burras, tentar acertar os passos. Sem me preocupar se a próxima etapa será o tombo ou o vôo…”

Caio Fernando Abreu

sábado, 6 de novembro de 2010

Afinal, o que querem os homens?

E porque não inverter os nomes Dr. Freud? Essa sua tese foi bem elaborada quando quis entender o que querem as MULHERES. Mas acontece que nem o senhor conseguiu entender. E para entender as mulheres, meu caro, eu não hesitaria em dizer que seriam precisos muito mais anos de vida que os seus para arriscar dizer algo sobre o sexo frágil.
Eu diria, que assim como nós não os entendemos de qualquer forma, vocês também, não nos entendem, e também não sabem o que queremos. Vocês pensam que sabem. Mas infelizmente não sabem. O contexto sempre é o mesmo. E os desquites acontecem vez ou outra por conta desses mesmos motivos que sempre, sempre se repetem!
Mas afinal, o que querem vocês, homens? Eu não sei muito bem a respeito para se quer ousar falar algo que nem ao menos tentei estudar para saber decerto o que vocês realmente querem. O mais retórico é que essa pergunta sempre se repete, em qualquer concordância que seja. Sempre tem algum homem querendo saber o que aquela mulher quer dele, e o que espera das suas atitudes. Ou sempre tem uma mulher querendo muito mais de um homem do que ele tem pra dar. É ou não é verdade?
Meus caros, sugiro-lhes que não façam pouco da sabedoria e da inteligência das mulheres. Nem as subestimem. Elas podem ter um não sei o que tão fantástico a ponto de lhes fazerem perder completamente os sentidos. E por favor, dêem o máximo de amor, de carinho, de afeto, qualquer coisa do gênero que seja à elas! Isso é o mínimo que vocês pode fazer quando se trata do sexo oposto, que pode ser comparado a um poço de sensibilidade.
Gosta dela? Mande flores. Apaixonou-se por ela? Faça dela a mulher mais feliz desse mundo. Desejou ter ela? Desfrute do pecado se aproximando dela e a faça pecar também. Quer ser o homem da vida ela? Não faça nada. Aliás, faça. Uma coisa só: não tente entendê-la!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Música Falada


Você chegou, te reconheci.
Já havia estado ali.
Você é a minha certeza.
Logo te gostei.
Beijei tua face,
Até sentirmos o amor mais puro e perfeito.
Desejei parar o tempo.
Os segundos corriam de mim,
Quase que me levando embora.
E eu tão feliz vivia-os
Como se durasse minutos,
Dias, horas, sempre, sempre...

Pra mim, sempre é tudo que agora se faz eterno!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Lucas Brandão

Couver de Vizinhos

Inércia infinita

A preguiça me aninhou e mais uma vez me impediu de acordar pro dia, o cheiro de nostalgia pairado no ar, o silêncio transbordado, os raios de sol iluminando meu quarto pequeno (...). Simulei sonolência, me fingi de criança e saciei quase por inteiro a vontade de ficar coberta, encolhida e intacta, monologando. Levantei serena, me espreguicei devagar, banhei meu rosto coberto de sardas, sussurrei os versos de uma canção e fui novamente induzida à minha cama tão receptiva e sedutora, cheia de sonhos e encanto. Gosto de primavera disfarçada, me remete a beijos cadentes, amor manso e abraços aconchegantes; fantasiei como menina boba que ainda acredita em contos de fadas. O coração descobriu-se livre e cheio de novas esperanças, mas não, chega de devaneios e desencontros, tem sol lá fora. Não sei, ainda não identifiquei a cor do dia de hoje, mas deve estar entre branco-nuvem e verde-musgo; e quente, combinando com a minha poesia.

Tainá Facó

Caio Fernando Abreu

Pequenas Epifanias

Há alguns dias, Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus —, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro.

Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal — não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de “minha vida”. Outros fragmentos, daquela “outra vida”. De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.

Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.

Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector “Tentação” na cabeça estonteada de encanto: “Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível”. Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece.

De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou — descuidado, também — em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia.

Era isso – aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.
Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.

(Publicado no jornal “O Estado de S. Paulo”, 22/04/1986)

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Anjo



"Hoje eu acordei mais cedo, e fiquei te olhando durmir.
Imaginei algum suposto medo, para que tão logo pudesse te cobrir.
Tenho cuidado de você todo esse tempo.
Você está sob o meu abraço e minha proteção.
Tenho visto você errar e crescer, amar e voar... Você sabe onde pousar.
Ao acordar, já terei partido, ficarei de longe, escondido...
Mas sempre perto, decerto, como se eu fosse humano, vivo...
Vivendo pra te cuidar, te proteger...
Sem você me ver, sem saber quem sou...
Se sou anjo, ou se sou, seu amor... "




[Trecho da música 'Anjo', Banda Eva, Saulo Fernandes]