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sábado, 12 de março de 2011

Percepção tardía

Você lembra que me prometeu que viria me ver e que seria tão perfeito o nosso encontro? Você lembra que me disse que era para eu te esperar naquela nossa rua, toda enfeitadinha, cheia de nós constituídos por dois eus? Lembra que me disse para aparecer sempre à tardinha, quando o sol estivesse se ponho e a lua lutando para brilhar e chamar atenção lá da outra ponta? Você lembra também quando me disse que essas seriam as suas melhores tardes porque você estaria comigo? E lembra que disse que era para eu te esperar sempre com uma rosa vermelha presa ao cabelo (dando um efeito de mulher-ultra-perfeita-numa-tarde-super-perfeita)? Pois é, desde esse dia que eu lembro de passar todas as tardes, naquela nossa mesma ruazinha, com uma rosa no cabelo, e sempre, sempre, quando o sol já está se indo e a lua em sua luta. Desde esse dia, eu sento no banquinho que deixei lá desde a primeira vez que você esqueceu de passar para me ver. Já está até velho ele, mas ainda tem a mesma eficácia de sempre: me fazer lembrar das suas promessas e dívidas. Pois é, desde esse dia que eu passo as tardes assim: lamuriando a tua ausencia. Você nunca lembrou que sempre teria uma mulher a tua espera, na rua que você sonhou, e do jeito que você sempre imaginou que seria. É uma pena você ter percebido tarde que essa mulher existiu algum dia. É por isso que agora eu já não sento mais naquele banquinho: eu agora o troquei pela cadeira do bar da esquina, e chego lá pedindo o de sempre: a velha dose de amnésia, e as duas doses de desapego, que é para ver se te esqueço de vez!


(Maria Valentina)

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