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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

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Sabe, seu Zé (posso te chamar assim?), aquele seu choro hoje no ônibus foi tão triste que achei bonito. É, seu Zé, foi bonito mesmo que eu quis dizer. Por quê? Ora, porque quase ninguém mais chora de verdade nesse mundo, seu Zé. Ainda mais profundo daquele jeito... Deve tá sendo dura a barra aí, né, seu Zé? Aguenta, aguenta, você é forte que eu sei. Só gente forte tem coragem de chorar pra fora, chorar como quem não tem nada a esconder. Você viu toda aquela gente te olhando? Aquilo ali é preconceito, Zé. Como se fosse feio chorar. Se bem que pra eles, é feio mesmo. É feio porque eles não sabem o quanto dói uma dor de verdade. As verdades doem tanto, né, Zé? Por isso muitos fogem dela. É covardia, puro medo de encarar, de dar a cara à tapa. Mas chorar é coisa do passado pra eles, não liga não, com o tempo a gente acostuma... A verdade, seu Zé, é que quando inventaram essa vida aqui esqueceram de reservar um tempo exclusivo para os que sentem demais. Você merecia esse tempo, seu Zé, pra ter a privacidade de casa, ter um espacinho e um momento de solidão. Senti inveja de você hoje, seu Zé. Tanta. Meu peito tá sufocando faz tempo, quase explodindo de sofrimento, mas eu não consigo, não sai nada. Nadinha. Até fazer força eu já fiz, e nada... Cadê minha sensibilidade, seu Zé? Deve ser cansaço, que é que cê acha? Digo cansaço interno, sabe. Cansaço de dentro. Cansaço de alma. Exaustidão do coração, seu Zé. Como eu faço pra sentir que nem você de novo? Como faz pra voltar a acreditar? Ai, seu Zé, preciso tanto ... Mas me fale de você, a dor passou? Era muito sério, nera, Zé? Ah, desculpa por não ter perguntando antes, juro que senti vontade, mas seria intrometimento demais, não seria? Eu sei, seu Zé, eu sei. Mas eu não perguntei não foi por isso, não. É que de uns tempos pra cá, seu Zé, eu não sei mais o que dizer pras pessoas. E minha vontade era tamanha de te consolar que preferi ficar em silêncio por precaução, pra não desapontar a você e a mim mesma.
Sabe como é, né, Zé... A gente também desaprende.



Por: Tainá Facó

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